quarta-feira, 29 de julho de 2009

Introdução

O Rancho Folclórico “As Janeiras” reflecte o passado da cultura gloriana e apresenta elementos de importância a nível social, que se foram perdendo ao longo do tempo, principalmente a nível do vestuário.
Preocupando-se também com a reprodução de melodias e danças que de geração em geração chegaram aos nossos dias. Tentando assim, transmitir a vida outrora na Glória, para alguém de divulgar uma das maiores riquezas artesanais, o bordado em ponto de cruz.
Todos estes trajes são verdadeiras relíquias dum passado longínquo, todas confeccionadas à mão, onde os bordados característicos de Glória são bastante relevantes e essenciais.
É este sentimento, que transborda nas danças deste rancho, danças que não são mais do que as danças de “algum dia”, as danças das desfolhadas no campo, das noites de verão depois das fainas da monda do arroz, da recolha dos cereais nas eiras, as cantigas que eram cantadas em desafios e despiques e dançadas com esplendor durante a lavagem de roupa em grupo junto ao ribeiro, aos domingos e as danças dos bailaricos populares.
São essas, as danças e os cantares glorianos que reflectem o carácter de um povo trabalhador e feliz, são quadras que espelham as alegrias e tristezas do quotidiano. As danças são na sua generalidade, danças de roda, herdadas das danças do largo. As cantigas são as melodias que passavam de geração em geração e “ficaram no ouvido” daqueles que as reproduzem, são letras do povo, do trabalho e são as letras de amor e de exaltação a Glória do Ribatejo, no fundo são letras orgulhosas de um povo orgulhoso de ser como é e de ser o que é.
O Rancho Folclórico “As Janeiras” é o espelho da Glória, é o reflexo de um povo que sabe o que vale e tem alegria nisso, como orgulho de serem Glorianos.

História

O Rancho Folclórico “As Janeiras” é um grupo de características ímpares no contexto do panorama Português. Surge em Glória do Ribatejo, uma vila da charneca ribatejana, fundada pelo D. Pedro I em 17 de Fevereiro de 1364.
Situado no concelho de Salvaterra de Magos e distrito de Santarém.
O bairro das Janeiras Gloriano viu nascer o seu grupo de folclore a 3 de Maio de 1981, fundado pelo senhor Manuel Monteiro Júnior e o senhor Carlos José dos santos, que cedeu uma pequena casa onde este rancho começou os ensaios. Hoje infelizmente ambos já não estão entre nós.
Actualmente, este Rancho tem um pavilhão próprio onde realiza os festivais e outros inventos.
Tem sido com imenso orgulho que tem levado as tradições de norte a sul do país e além fronteiras, cientes de que todas as tradições do passado, estão ainda hoje bem enraizadas no presente de todos os Glorianos.
A origem dos habitantes da Glória do Ribatejo é o litoral zona da Nazaré, um misto de pescador e de pastor que mais tarde se dedicou à agricultura, único meio de subsistência, apesar da evolução dos anos não perdeu essas características tão próprias.
Os trajes que apresentam remontam aos anos 60 e 70, trajes domingueiros, e trajes de trabalho, são típicos e tradicionais com destaque para a indumentária das mulheres genuínas e únicas, autênticas relíquias de um passado longínquo.

Modas

Antigamente as modas eram dançadas debaixo do chaparrão e em muitos outros bailes que se realizavam ao ar livre. Outras modinhas não eram cantadas e assim, se dançava apenas ao toque da concertina, gaita-de-beiços, do harmónio, e outros instrumentos musicais, alguns de fabrico artesanal.

Vira das Janeiras

A saia de costurina
Que trago noites inteiras
Mata o frio de inverno
Quando vou para as Janeiras

Meu bairro das Janeiras
Deves de estar orgulhosa
As tuas moças solteiras
São lindos botões de rosa

Bairro da Janeira
Que lindo que és
Tens este ranchinho
Que te beija os pés

Que te beija os pés
Ficas na memória
Tu és a rainha
Das danças da Glória

Oh Janeiras oh Janeiras
Só tu me dás alegria
O teu povo encantador
Não me esqueço de noite e dia

Oh Janeiras oh Janeiras
Eu só quero respirar
O teu ar puro da charneca
Para que eu possa cantar

Traje

O vestuário da Glória marca a personalidade única e genuína da população.
O traje desta vila permaneceu, na sua essência igual ao traje “de algum dia”. Actualmente, a perder-se pela modernidade, o traje típico é apenas usado pelas pessoas mais idosas onde a vivencia do passado se encontra mais enraizada.
O Rancho “As Janeiras” reflecte assim, por um lado um passado relembrado com muita alegria pela população mais idosa e por outro, dá a conhecer aos mais jovens os trajes utilizadas pelos seus pais e avós que viveram noutras épocas, diferentes da vida que se leva hoje em dia.
É retratado sobretudo, o traje de trabalho, o traje do homem é muito semelhante ao do resto do ribatejano, salvo algumas excepções, calça e colete pretos, camisa alva, lenço dos namorados, cinta e barretos pretos, sapatos de atanado, destacando a bolsa de relógio que trazem ao peito e que talvez única no mundo. O traje da mulher consiste num casaco subido até ao pescoço que faz conjunto com um cinto, que podem ser de vários feitios, cores e decorações. Ao cinto é preso o lenço dos namorados e uma pequena bolsa, onde se guardavam o dinheiro. A saia é feita com “favos de mel” em cima e vestida sobre outras saias interiores, cada saia tem “bicos” de cor diferente e bastante alegres.
A destacar a pregadeira em ouro e a moldura de prata com a fotografia do namorado, o que significava que a rapariga era comprometida.
Por cima da primeira saia é colocado um avental, do mesmo comprimento da saia, sobre o qual é “amarrado”, à volta da anca e um pouco acima das coxas, uma “cinta”.
Na cabeça, usam um lenço atado perto da testa e terminando em bico. É de notar que só as glorianas sabem amanhar os lenços desta maneira.
Como forma de agasalho a mulher utilizava a “saia costurina”. Esta saia é o elemento do vestuário mais característico e é uma espécie de saia larga franzida que as glorianas usam sobre os ombros ou sobre a cabeça. Usavam ainda na cabeça um talêgo (feito de pano), que levavam com o jantar para a segunda-feira, no fim da apanha do trabalho na praça, que se realizava no centro da Glória.